Paris, Jardim de Luxemburgo, 21 de maio
O tremular tricolor da liberdade, igualdade e fraternidade impõe-se soberano à paisagem que o envolve. Os gramados de um verde vívido e um corte impecável, as flores que timidamente ainda vão colorindo o ambiente, o chafariz brilhante ao emanar o reflexo do sol. Tudo nesta cidade parece apaixonante! Cada canto guarda uma surpresa, seja ela agradável aos olhos ou enriquecedora ao repertório histórico-cultural.
Paradoxal sensação esta de que tudo além de fantástico é ironicamente ordinário. Talvez pela grande quantidade de imagens que vemos da Cidade Luz mesmo sem nunca tê-la visitado (fotos, filmes...). Talvez devido à minha vivência de oito meses em Québec (Canadá), em contato com pessoas que já conheciam Paris ou mesmo que moravam aqui, tornando corriqueira a inclusão da cidade nas conversas cotidianas. Finalmente, essa estranha normalidade pode vir da infindável ocorrência de monumentos tão magníficos. O que está de acordo com aquela idéia da psicanálise segundo a qual o choque, o espanto, fortalece a proteção do inconsciente sobre o consciente. Torna-se mais difícil impressionar-se.
No entanto, ao mesmo tempo a cidade vai se revelando. Nada melhor que andar a pé para imergir num lugar desconhecido. A cor do rio Sena se alterna de um verde turquesa a um azul talvez ordinário. A catedral de Notre Dame, fascina tanto por seu exterior quanto pelo interior. A imponência da Tour Eiffel (carinhosamente, apelidei-a de la petite), que pode ser percebida de muito longe. Como a partir das escadarias do Panthéon. Deslumbrante.
Aos amantes das ciências humanas, o Panthéon abriga as tumbas de Rousseau (o filósofo da Natureza) e Voltaire (o príncipe do espírito) postas frente à frente. Os escritores Dumas, Zola e Victor Hugo dividem a mesma sala. O exercício vivo da lembrança e o ardor da Revolução ainda pairam no ar. Idéia inicial de turista, quiçá.
As ruelas pequenas, os carros pequenos, as boulangeries [padarias], cafés e livrarias pequenas... Isso me encantou. Também as parisienses encantam. São de uma beleza fina, elegante, delicada, silenciosa. Muitas se locomovem de bicicleta – ponto a mais pra Paris. O ápice do estereótipo foi ver a parisiense, tranqüila, de saia longa e coluna ereta, no meio da rua em sua bicicleta, com um vaso de flores e uma baguete na cestinha da frente.
Estranho perceber, além de tudo, que algo aqui me remete ao Rio de Janeiro. Não sei se a brisa, o cheiro, o sol, o constante barulho dos passarinhos, o movimento nas ruas, tudo, ou nada disso.
Enfim, inevitável sentimento é também a saudade da minha pequena, que ficou em Québec, e a vontade tremenda de que ela estivesse aqui comigo para compartilhar, seja da História viva que emana dos poros da cidade, seja de morangos num final de tarde no parque. Bref, a apenas uma hora de sono no avião e o fuso horário dão seus sinais. Hoje dormirei feito um bebê. E, pra variar, tenho fome.
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2 comentários:
Realmente...Paris �...exageradamente apaixonante.Acho que deixei um pedacinho do meu cora�o l�.Hei de voltar..talvez por per�odo indeteminado..quem sabe.La petite?!Combina mesmo com ela.
"Saudade da minha pequena"...
Essa angústia no seu coraçao me fez lembrar O Amor nos Tempos do Cólera, qdo a mae do protagonista apaixonado lhe sugere que aproveite aquela dor de amor, que é típica da idade e de seu tempo. 0Big Dilon, Paris nao lhe teria sido a mesma sem essa saudade.
abçs
Cirsaum
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